domingo, 1 de maio de 2011

Antropofágica


Tem horas em que tenho medo de mim mesma.
Medo dos meus desejos.
Medo porque vêm coisas absurdas da minha mente, como o desejo de devorar um pedaço de alguém.
Mas não de um alguém qualquer, um alguém que habita meus pensamentos de forma quase existencial.
Um alguém que só de me lembrar me molha, e que por se manter quase como uma consciência, mantem-me molhada constantemente.
Quando me deito pra dormir muitas vezes é esse meu ultimo pensamento, deglutir-lhe a alma, e absorver cada parte dela em mim mesma.
E assim é quando acordo, quase sempre com seu gosto nos lábios.
Coisas certas, coisas humanas, essas nunca conseguem solucionar nada.
Sempre acordo com os cabelos ruivos colados na testa, e com meu desejo latejante provando minha incompletude.
E então novamente vou e invado, e tomo e ordeno que se derrame sobre mim, peço que se abra e se perca. 
No meio desse desejo, da mal controlada fome, te mastigo dentro de mim, enquanto com falsa paixão, de forma lenta e cadenciada me faz crer que veio para ficar, mas dizendo de muitas formas nunca claras o suficiente, em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar.
E é isso que muito me interessa.
Meu prazer se encontra em te prender e virar sua cabeça, em provar que não tenho que fazer nada além de apenas ser, de jogar num canto, lamber atrás da orelha, prensar minha coxa entre as pernas, e esperar o pedido rouco e leve de “me invade”.
E me queres assim porque é assim que és.


Um comentário: