domingo, 28 de novembro de 2010

Doação


Depois de uma noite em que remédios pra dormir não fizeram efeito, nada me deixa doce.
Pior que insônia só quando tudo sobe pra cabeça e ela parece que quer estourar.
O inferno é aqui, meu inferno particular. A sorte é que de todos os demônios, o meu usa micro saia de vinil, saltos alfinete cromados e carrega um verme vermelho nas entranhas.
Só acredito numa pessoa depois de ver o verme dela.
Realmente sou intensa demais, vivo demais.
Se é pra rir, vou gargalhar, aquela gargalhada gostosa.
Se é pra chorar, vai ser pra resolver, até desidratar e perder o ar.
E sabe por quê?
Porque comigo não tem meio termo.
Se você quer o meio termo, pega essas butchs que ficam em cima do muro.
Contenta-te com o cabelinho curto e o “papel de marido”. E dê graças á Freya e todas as Deusas que o tempo da brilhantina já passou.
Eu sou puro instinto e feminilidade, sou passional, ciumenta, jogo coisas, arranho.
Meu perfume é de femme, tenho TPM.
Tenho minhas crises sim, minha bílis me deixa azeda e me torna mais racional.
Se você quer lidar com MULHER, tem que estar pronta pra isso. Já pra se envolver comigo tem que estar pronta pra TUDO.
Cansada dessa gente que pra tudo tem dois pesos e duas medidas.
Não me interessa se você carrega chumbo e eu algodão, um quilo vai ser sempre um quilo.
O que eu te falo, tem que ser levado á sério. Minha palavra vai ser a sua bíblia, e meu corpo o teu templo.
Em troca vou te dar o paraíso, cheio de luxúria, lascívia e perversão.
O que eu quero é muito mais do que tudo que você conhece.
Em 27 anos já vivi muitas vidas, já fui santa, profana, puta, estudante, trabalhadora, já dei vida, perdi a minha e me perdi.
O que tenho para dar é infinitamente mais que tudo o que perdi: dar-te-ei os meus ganhos.
A maturidade capaz de rir quando no passado choraria, a busca de agradar-te quando em outro tempo valorizaria apenas minha felicidade.
Quebrar a cara e levantar, sentir na pele, me ensinou a amar melhor, com mais paciência e muito mais ardor, a entender quando necessário, a dar-te o melhor da amante e colo de amiga, e acima de tudo força.
Posso ter meus momentos de vazio, e neles ter pouco para dar, mas podes ter certeza que o que tiver será seu.
Basta me dar tua entrega.
Dela eu vou me alimentar como com Ambrósia, e terás o infinito EM MIM.

NAM MYOHO RENGUE KYO

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Post especial: Depoimento de mãe.


Minha filha me pediu que desse um depoimento-Como se sente à mãe de uma lésbica?
Devo dizer que á princípio quando nascem nossos filhos, nós não os levantamos do berço com orgulho e dizemos: -Este vai ser homossexual!
Não é o futuro que nenhum pai ou mãe deseja para seu filho.
O que desejamos antes de tudo é que eles sejam felizes.
Esse caminho da homossexualidade não é um dos mais fáceis, sabemos que nossos filhos serão discriminados, apontados como “coisas”.
Mas de repente lá vem sua filha com a novidade: -Mãe, eu resolvi sair do armário, sou homossexual.
O que fazer?Você olha aquela criaturinha que você amamentou, cuidou, fez tudo que estava ao seu alcance para que fosse feliz e sente uma pontada no coração.
Você não pensa que ela é diferente, você pensa: Ela vai sofrer.
Quer pegar seu bebê no colo, mas já não é seu bebê, é um ser humano adulto que tem todo direito ao seu próprio sofrimento.
Podemos encaminhar nossos filhos na vida, mas não podemos tirar deles o direito de crescer e aprender com o próprio sofrimento.
Então você olha para seu anjinho e pensa, será que ela vai agüentar?
A pressão, a dor e a discriminação?
Sei que dei a ela o melhor de mim, e que minha garota é uma pessoa integra, não é desonesta, não tem falhas de caráter, é batalhadora e melhor do que muitas pessoas ditas “normais”.
Que mais uma mãe faz quando percebe que seu filho (a) precisa dela?
As outras eu não sei, mas esta aqui apóia sua filha.
Ela não é nenhum macaco de circo que sai fantasiado por aí, e também não esconde quem é.
Outro dia um rapaz da minha rua disse para uma garota que ele paquerava que eu gostava muito dele e que só tinha dito para ela que ele era casado (Coisa que é de fato!) por que eu queria que minha filha se casa-se com ele.
De repente me vi retrucando: É ruim hein garoto?Minha filha é sandálinha e tem namorada!
Acho que estou aceitando bem, não tenho vergonha da minha menina.
Só não gosto quando ela expõe na frente de estranhos alguns detalhes de seus relacionamentos que mesmo se ela não fosse “homo” seria constrangedor.
Vergonha da minha filha?Não. Não tenho mesmo, ela pode ser o que for, mas sempre será minha filha e tenho muito orgulho do ser humano maravilhoso que ela se tornou.
Sim, eu sou a mãe feliz de uma homossexual.





Cássia. (Minha mãe.)

domingo, 21 de novembro de 2010

Hipocrisia


Uma das coisas que me irrita profundamente é a hipocrisia.
Somos criados numa droga de sociedade que impõe valores vindos sabe Deus de onde, provavelmente de antes de Cristo, e somos subjugados a elas, o tempo todo.
Por que somos obrigados a seguir a conduta heterossexual?
Deus só criou homem e mulher, e nem podemos escolher?
Até quando se é gay vem à tendência a ter que ser Butch e Femme, mais masculino e um feminilizado.
E ter que dar satisfações á estranhos? Alguém no trabalho, ou aquela tia velha intrometida: Você não namora?
A vontade é de responder, então, sou lésbica, minha amiga loira que ta sempre comigo, é minha namorada...
No meu caso como sou assumida, ninguém nem pergunta mais nada, mas quando alguém descobre e solta um “nossa, nem parece”, conto até dez e penso na Jolie pra acalmar.
Eu amo meus saltos, vestidos e decotes, e a mesma coisa NELA.
Mulher pra mim tem que gostar de maquiagem, unhas pintadas, ter cheiro de mulher e se sentir a feminilidade em pessoa.
Já tentei sair com uma meio termo, outra butch, mas não tange.
Amo boca de mulher, seios, cabelo tratado e longo, pele macia, o pensamento e a alma.
Não, eu não quero uma mulher delicadinha, eu não sou delicada, sou intensa, gosto de sexo violento e arrebatador, mas pra provocar meu frenesi preciso da essência feminina.
Por gostar de decotes, sensualidade e sexo, a maioria das pessoas chega até mim remitindo,
como se eu fosse uma PUTA, ou precisasse da aprovação de outrem.
A verdade é que sou á favor da banalização da LIBERDADE, se quiser usar couro e vinil no dia á dia, decotes ou corsets, poder andar sem questionamentos.
Quanto á ser prostituta, sou todos os dias enquanto me vendo pra desejos que são da *sociedade* e não meus, quando visto meu jeans e vou á padaria com de vontade de estar de salto, ou quando vou no aniversário da minha tia morrendo de vontade de estar numa boate vendo uma streaper burlesca.
O que me salva é saber que sou lésbica e tenho fome, necessidade de consumir mesmo outra mulher, de comer até saciar o desejo, sem moralismo ou falsos pudores.
Se você não entende isso e me recrimina por aquilo que penso, é por que provavelmente ou é reprimida, ou nunca conheceu o prazer de verdadeiramente *SER*.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Solidão


Ultimamente á mim só resta escrever.
Escrever tem sido a minha rede de proteção para evitar a queda.
Solidão.
E minha solidão se estende á anos, vem me acompanhando desde que me entendo por gente.
Pessoas têm aos montes por aí, e isso é o que realmente incomoda, a solidão em meio á multidão. Às vezes tenho crises de pânico quando me vejo rodeada de gente, e é um pânico emocional que me faz chorar de desespero, não por querer sair, e sim por falta de SENTIR.
Durante um período longo da minha vida eu estive vadia, saindo com mulheres atrás de sentir, apertando corpos em busca de vida e recebendo em troca mais um vão vago.
Sabe o que descobri? Ir na baladénhaaa e beijar as menininhas não fazia de mim uma VADIA, e sim uma VAZIA.
A verdade é que não adianta uma mulher te servir um vinho e segurar a sua mão, isso não vai te trazer nada.
Andar pela rua ao seu lado falando que a vida ta difícil e a inflação ta subindo, também não é dividir nada.
Pra fazer valer a pena tem que QUERER, saber que um bicho tem necessidades e que é preciso capacidade de supri-las.
Se você não agüenta somar, não pode retribuir, tem que trabalhar e não tem tempo para sentir, nem se aproxime.
Eu já senti culpa por ter sido abandonada, já sofri por ser como sou e afundei com esse peso, mas eu me perdoei, á muito tempo, por ter sentido isso.
Doeria mais se eu não fosse.
Eu emergi e carrego meus pesos comigo, e isso faz de mim uma ruiva de perna torneada e seios firmes, além de uma alma forte.
A verdade é que não vou mais permitir que quem não agüenta a vida se aproxime, não sou uma mulher comum e sei que isso cansa. Um dia ela vai levantar e vai embora. E a culpa não vai ser minha, pois quem não tem capacidade para lutar pelo que vale a pena nem deveria sair da cama, quanto mais se aproximar de *MIM*.
Eu não quero uma mulher independente, eu NECESSITO de uma mulher que precise de mim, que me ligue as 4 da madrugada simplesmente por que está com saudades, que queira deitar no meu colo e me falar dela depois de um dia ruim, que ao estar esgotada encontre no meu peito o abrigo e o alimento pra se refazer.
Quero a comunhão de almas, sentir o que corre pelas veias DELA, saber que sou a predadora que vai deixar ela com o corpo dolorido, o coração sobressaltado a cada toque do celular, e a boca seca ao lembrar dos meus lábios.

Hoje estou conformada com a minha vida, sofrendo de aceitação. Eu ainda espero a chegada da mulher maravilhosa que vai desejar minha loucura, implorar para viver sob as minhas regras e sentir prazer em ser MINHA.
Mas se ela não vier, vou continuar tomando meus remédios pra dormir engolindo a solidão, e no dia seguinte vou levantar e cuidar de mim, pois mais uma batalha me espera, e é mais um dia para exceder.