domingo, 13 de março de 2011

Segredos



Eu tenho um segredo pra contar.
Uma coisa que eu escondo e escondo, mas que é impossível de realmente ocultar, por que sempre aparece quando eu me distraio.
A verdade é que por trás da blusa decotada, dos seios, dos músculos e das mascaras, eu tenho um coração.
Ele já foi enorme, brilhante, liso, e quase não cabia no peito.
Hoje eu não sei se cresci demais, e ele se tornou pequenininho, ou se de tanto dar pontos, tirar e recolocar algumas vezes, ou pelo peso da armadura, adagas e espadas, ele parece menor.
Sempre me preocupei muito com a pele, o cabelo, as unhas, mas o coração eu ia jogando na vida, dando sempre nas mãos de quem não se preocupava se ele batia ou se caía.
Pensava que por não vê-lo ele era imune.
Uma vez eu viajei e deixei ele lá pelas bandas do Centro-Oeste, perdido, e o pobre levou anos pra voltar.
Chegou ferido, magoado, batendo de levinho.
Eu peguei de volta como quem pega passarinho de asa quebrada, lavei, botei remédio nas feridas, e escondi embaixo do lado esquerdo de muitas camadas de personalidades.
Ele foi voltando a bater um pouco mais rápido, algumas vezes descompassado, outras estimulado pelo calor que subia do baixo ventre.
Esse calor quase sempre tentava fazê-lo saltitar.
Até que ele escorregou.
Numa dessas tardes depois de rir, olhar dentro de um par de olhos brilhantes e me perder.
Ele escorregou pra dentro de uma bolsinha de veludo, e eu acreditei que era seguro.
E durante um tempo ele ficou protegido, batendo quentinho, sem nem perceber alfinete ou ferro que cutucava pra acelerar.
E quando dei por mim, ele estava jogado dentro de uma gaveta, já servindo de almofada de costura.
Lutei contra, fui minha própria inimiga, tranquei a gaveta, joguei a chave em um cofre.
Uma noite voltei sem as armas, nua, de mansinho, e o tomei de volta nas mãos.
De lá pra cá meus demônios o protegem, e prefiro não saber onde o escondem.
Porque metade de mim acredita que ele deve ser doado, e a outra parte também.
E vou lidando com a falta, ao mesmo tempo que desejando ardentemente escutar a campainha, o skipe, o toque do celular, ou mesmo uma mensagem de e-mail ou a janela piscando do MSN,
com uma gladiadora dizendo:
"Hey, não tenho medo dos teus vermes, pois também tenho os meus.
Sou a guerreira que faltava pra enfrentar teus demônios. Vou balançar o teu mundo, e sorver TUA ALMA."
Enquanto isso eu sento na janela, e fico vendo as mocinhas passando correndo, com medo.
E quando o desejo bate, vou me divertindo com as erradas...

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